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3 de nov. de 2015

JUSTIÇA EM CAVALCANTE (GO) “SÓ SE FOR A DIVINA”.

Essa afirmação está na boca de cada pessoa que foi vitima de algum tipo de crime na região de Cavalcante, uma cidade goiana distante 512 Km da capital e 310km de Brasília, agredidas por estupros, furtos a residências, intimidações graves na cidade e na zona rural, assassinatos covardes, etc.

Até pouco tempo Cavalcante era a conhecida como a cidade das belas cachoeiras, uma linda natureza e os Kalungas, descendentes de escravos que fugiram desse tormento maculador da história do Brasil. Eles que habitam por séculos aquela região, bem antes da chegada da dita “civilização”.

Assim como os indígenas, os kalungas também foram e são vitimas da sociedade perversa. São vitimas constantes de estupros – muitas delas crianças; de ameaças de morte; intimidação dos parentes de vitimas de assassinatos; vitimas de furtos em residências e até atacados por invasores que querem tomar suas terras. Todos os kalungas sofrem calados, cabisbaixos, temerosos, esperando as autoridades e a Justiça que não chega. Nada acontece, meses se passam e os criminosos (conhecidos por muitos na região), continuam impunes.

Os turistas que visitam a cidade reconhecem as belezas naturais e, ainda, que os kalungas mantém sua cultura, tradição, sua vida simples, mas não percebem o medo por trás de cada olhar, a insegurança deles em andar pelas ruas e comunidades. Já foram mais felizes, hoje, buscam no mínimo a Justiça e a Paz.

Nem mesmo as matérias do Jornal O Popular (Jornal Goiano) e da Rede Record (São Paulo) - ganhadora do Prêmio Esso de Jornalismo e que gerou a indignação nacional - conseguiu abalar as autoridades para que a justiça fosse feita. Pelo contrário, aconteceram reações midiáticas para políticos e autoridades que na ocasião falaram em providências, porém, até agora não aconteceu...nada. Nenhum resultado prático, ninguém na cadeia. Apenas um dos molestadores, um dentista, ficou dois ( apenas 2) anos preso por isso. O restante continua solto, inclusive intimidando suas vitimas e as famílias humildes e indefesas. Por vezes comprando o silencio, seja por “presentes indenizatórios” ou por ameaça com violência.

Uma comissão foi até a cidade fazer a tal audiência pública para conhecer e propor soluções e justiça, mas segundo testemunha (que por questões obvias não será identificada) o que houve foi um culto em louvor ao “trabalho” do MP local e uma desavença velada entre o MP e a Polícia Civil. Depois, segundo relatos locais, tudo voltou ao que era antes. Só gerou palanque.

A ousadia dos criminosos (e a sensação de impunidade) é tanta que na semana em que a reportagem da Record sobre os estupros de crianças kalungas iria ao ar, os bandidos roubaram os equipamentos de retransmissão da antena, na tentativa de esconder dos moradores o vexame exibido em rede nacional. Não adiantou, já existe a internet e antenas parabólicas, muita gente viu.

Conversar com pessoas sobre o assunto polêmico causa desconforto, mas todos em uníssono dizem que, praticamente, não aconteceu nada em relação aos estupros. Os suspeitos continuam soltos vivendo com suas esposas e filhos como se nada tivesse acontecido. Já as crianças, vitimas dos abusos, sofrem com os traumas que aumentam cada vez em que se deparam com os agressores livres e felizes com suas famílias. O aumento do tráfico de drogas na cidade e mesmo nos vãos Kalungas, viciando os jovens que acabam cometendo furtos para manter o vício. Até isso já chegou por lá, a providência, ainda não.

Sabe-se que o número de meninas violentadas pode ser bem maior que os quatro casos divulgados, mas estas sofrem caladas. Algumas pessoas próximas e parentes sabem, conhecem o crime e o criminoso, porem não falam, procuram uma coisa que por lá ainda não existe: Justiça e punição. Sendo assim, não registram os crimes que, segundo fontes locais, continuam acontecendo mesmo depois da divulgação na imprensa. Isso é a certeza da impunidade.

Um assassinato, ocorrido em julho, continua impune. Moradores sabem quem foi o mandante e conhecem os dois jovens assassinos (filhos do mandante). Mataram um pai de família pelas costas com quatro facadas e uma derradeira no peito. Ao inverso da razão, as vitimas é que vivem com medo, enquanto o mandante, algumas vezes embriagado, diz na rua que “ira matar os outros daquela família”. Quando as autoridades não querem, “não acham um pequi no arroz”. Os suspeitos do crime têm endereço na cidade, sabe-se onde estão os assassinos -vistos por testemunhas, mas a polícia não prende e a justiça continua cega. As vítimas das ameaças, intimidadas, e tementes pela vida continuam a tocar suas vidas humildes na esperança de um dia ter Justiça. Será que autoridades vão esperar por outro assassinato para tomar providências?

Denuncias de invasão de terras por pessoas locais são muitas (várias ocorrências registradas na polícia), intimidando kalungas tentando forçar o abandono das suas terras para que grileiros possam ocupar essas terras na marra. Criminosos invadem os locais, com motosserras cortam cercas, destroem casas de adobe, destroem plantações, ameaçam, etc. Boletins de ocorrências são registrados, um após outro, e nenhuma providência é tomada, mesmo com as vitimas sabendo quem são os suspeitos. Com isso, o medo e a insegurança chegaram a lugares distantes que antes eram ilhas de tranqüilidade. Furtos estão comuns nas casas humildes das regiões distantes, os moradores ficam sem tudo da noite para o dia. Policiamento praticamente não existe.

O município de Cavalcante não tem um delegado fixo, apenas um plantonista que segundo informações aparece por lá uma vez na semana, permanece apenas algumas horas, depois vai embora. Também não tem Juiz fixo na comarca. A promotoria local, por tudo que se sabe, já deveria ter sido removida ou afastada por ineficiência – os inquéritos não avançam. Pelo contrário, os presentes foram surpreendidos na Audiência Pública quando foi elogiada até pela corregedoria do MP, na contramão da opinião pública. Isso seria o de menos caso houvesse soluções para os muitos crimes sem castigo. Por exemplo, o caso do assassinato, em que moradores conhecem o mandante e os autores do homicídio. O mandante, livre, leve e solto, continua intimidando e ameaçando as vitimas. Mesmo para quem não é jurista, mas tem conhecimento, o mandante deveria estar preso por intimidar as vitimas e assim influir no andamento do processo. Mas nada acontece. A família da vitima tem até dificuldade em obter informações sobre o processo.

A bem da verdade, o Governo local apenas administra o município. O Governo Estadual (através as Segurança Pública) finge que não viu nada, que não sabe de nada. O Governo Federal, não se manifesta. Comissões de Direitos Humanos, Federal e Estadual, continuam omissas, até a tal da Audiência Pública pareceu um culto a personalidade, sem nada de concreto depois.

As ONGs e movimentos Afros goianos e nacional, não se manifestam, parece que as vitimas quilombolas de Cavalcante são “afromarcianas”, parece que elas não existem, que não são negas, para eles que tanto brigam por condenar injurias raciais e avançar nas cotas raciais, se omitem no caso dos crimes dos Kalungas, afro descendentes históricos.

Os movimentos feministas e aqueles que lutam contra a violência da mulher, também não fazem nada para pressionar autoridades por Justiça para aquelas meninas que sofrem e estão traumatizadas. Mas não se apresentam, querem mesmo é mostrar os peitos siliconados nas praias e ruas do Brasil afora. Não se dignam a lutar por aquelas meninas/mulheres que sofreram e sofrem uma grave violência.

Os grupos de Direitos Humanos que se levantam ferozes quando o miserável do traficante leva tapa de um PM, porém não tem a mesma ferocidade e não se digna a defender os kalungas de tantas ilegalidades e agressões.

A OAB, sempre zelosa com a imagem da instituição, até o momento não levantou a voz com firmeza em defesa daquelas jovens e pessoas oprimidas, sofridas com a falta de Justiça, que não podem pagar advogados para sua defesa.

Por lá existe, sim, uma minoria de pessoas que quer ver a paz e a justiça restaurada no município, infelizmente, por razões de segurança não posso citá-las. Algumas delas ameaçadas de morte por mais de seis vezes. Pessoas que na sua luta por Justiça deveriam ter os nomes estampados em praça pública, porém poderão apenas ter o nome numa lápide. Estão desprotegidas das autoridades. Estas contam com o respeito dos justos.

Essas pessoas tentam fazer alguma coisa pelas vitimas kalungas, denunciam, criticam, buscam soluções para a situação sem interesse político. Só encontraram eco em alguns veículos de comunicação, mas o som não sensibiliza quem pode fazer algo e não faz. Não faz por omissão, covardia, interesse ou incompetência. O importante é que o povo Kalunga de Cavalcante GO continua gritando, num silêncio ensurdecedor. Esperam por Justiça, não só a de Deus que vai haver, mas, também, a Justiça dos homens.

Os Kalungas de Cavalcante ainda esperam por ações efetivas que os defenda, venha ela de onde vier. Lembrando que até agora pouco ou nada foi feito.



João Carlos Barreto
Editor Goiás em Notícias.com
#lutandocontraaimpunidade