André Luiz Ramos é a prova viva de que nunca é tarde para mudar. Acostumado à dura realidade do morador das favelas, que vive acuado sob as leis do tráfico, ele não resistiu às aparentes facilidades da vida do crime e acabou virando mais um jovem traficante. Apreendido pela polícia, ficou internado no Instituto Padre Severino dos 15 aos 17 anos, quando descobriu um outro caminho: o jornalismo.
Ramos não frequentou uma universidade e sequer terminou o quarto ano do ensino fundamental, mas no tempo em que ficou detido pôde se dedicar durante muito tempo à leitura de matérias e reportagens. A recompensa não demorou muito a vir. Em pouco mais de sete anos, Ramos trocou a vida do crime pela de microempresário e editor-chefe do jornal Plantador Fiel, que circula no Complexo do Alemão, com tiragem mensal entre 5.000 e 8.000 exemplares.
- Eu ficava muito tempo diante do computador lendo matérias, reportagens e assim eu percebi que eu deveria ter ficado muito mais tempo na escola. Deixei a sala de aula na quarta série. Foi aí que as palavras me cativaram.
Sonhador, ele quer mais, e espera que a nova geração de crianças e adolescentes do Alemão possa aprender na própria comunidade o que ele descobriu quando esteve recluso. Para isso, pretende criar uma biblioteca na comunidade, que está pacificada desde novembro de 2010.
- Estou planejando criar uma biblioteca na comunidade, mas ainda não tem nada concreto.
Atualmente com 25 anos, Ramos relembra os tempos no Padre Severino. Foi lá que teve o primeiro contato com o computador, quando trabalhava com autoridades do local e conseguiu aprender a usar programas de edição de texto e de imagens, além de navegar na internet. Segundo ele, o contato com a palavra foi essencial para que se apaixonasse pela língua portuguesa.
Depois de cumprir sua pena e voltar para o Alemão, Ramos fez um curso de empreendedorismo, na própria comunidade, ao lado de outras 1.200 pessoas.
- Eu nunca imaginava que para ser editor-chefe ou dono de jornal eu tinha que passar por esse mundo de palestras financeiras, cursos de elaboração de negócios e parcerias. Foi aí que entrei nesse mundo, do empreendedorismo. Até então, eu só tinha o linguajar da comunidade, do “qual é, qual foi”.
Ao término do curso, 35 alunos puderam apresentar seus planos de negócio em uma feira. Sem saber que diretores e presidentes de grandes empresas estariam no local, Ramos foi surpreendido com a proposta de um executivo de uma grande empresa de cosméticos e com o 3º lugar entre os trabalhos apresentados.
- A princípio, nós não sabíamos que teríamos um incentivo financeiro. Ganhei o certificado de terceiro lugar com um plano bem elaborado e sustentável.
Estratégia diferenciada
Para conseguir ter visibilidade em todos os lados do Complexo do Alemão, Ramos elaborou uma estratégia de divulgação diferenciada. Sabendo que qualquer pessoa que mora na região precisa utilizar uma das 12 entradas da comunidade, ele conta com a ajuda dos 600 mototaxistas que circulam pelas vielas do bairro para distribuir os quase 8.000 exemplares.
- Já contamos com mais de 500 assinantes dentro do Complexo do Alemão.
Fonte: R7/Rio